Sei que no último post, prometi a vocês que faria uma série abordando as verdades e as mentiras sobre esta querida e nobre arte marcial. Podem ficar tranquilas leitoras do Muay Thai Mulher: cumprirei minha promessa. Mas neste post, peço licença a vocês pois preciso fazer um registro. Não, mais do que isso, preciso fazer um agradecimento. Espero também que possa ser mais um incentivo.
Não é segredo para ninguém e eu já relatei isso aqui mesmo no blog – faço mea culpa – que eu não tinha uma luva de Muay Thai. Quando comecei a praticar, lá em 2001, não tinha a intenção e nem pensava em um dia chegar tão longe. Meu interesse era fazer um esporte, uma luta que me estimulasse e me desse um bom condicionamento. Só que eu fui fazendo, fui passando nos exames… e cheguei até a preta 9 anos depois de ter começado.
Já é do meu temperamento ser disciplinada e obedecer hierarquia. No Muay Thai, como em qualquer arte marcial (e na vida deveria ser assim também), estes valores têm muita importância, pois ensinam o respeito aos mais velhos, ao seu oponente e aquele que é mais forte ou mais fraco que você. Nunca treinei sem uniforme, nunca treinei sem atadura e, depois que comprei, nunca mais treinei sem o protetor bucal. Porém, sempre falhei em uma coisa: não tinha luva.
Explico: estavam fora do meu orçamento. Eu trabalho desde os meus 19 anos e a partir do meu primeiro salário, ainda como estagiária, sempre ajudei meus pais nas despesas da minha casa. Com o passar do tempo, por óbvio, fui ajudando mais; ou seja, meu salário sempre foi suficiente para passar o mês e cometer, em raros momentos, algumas extravagâncias. Assim, ia adiando… adiando… e nunca sobrava para comprar a luva.
No início deste ano fiquei desempregada e as voltas com todas aquelas dúvidas que a gente tem quando isso acontece, mas – graças a Deus – este problema durou pouco tempo. Entretanto, meu salário no meu novo emprego também não me permite despesas fora do necessário. Meu mestre, que não tem nada a ver com isso (claro!), sempre me cobrou este único deslize.
Minha luva do MMA.
Meu irmão que, como vocês sabem, é preparador físico e trabalhou muito tempo com o American Top Team e, tentando sanar meu problema, me deu uma luva oficial de MMA, aquela em que os dedos ficam de fora. Adoro treinar com elas. São leves e você sente bem o soco. Mas não são luvas de Muay Thai. Por isso, volta e meia, quando o treino é de sombra, ou algo assim, tinha que usar uma da sala, o que nem sempre é agradável. Além de ser um material usado por outras pessoas, o tamanho pode não ser adequado para sua mão, o que vai tornar sua luta um tanto insegura.
Claro que ficava desconfortável nessa hora e com um peso enorme na consciência, que apenas fazia aumentar com as graduações que conquistava. Mas é aqui que a história fica bonita:
Nesta última quinta-feira, ao chegar na academia, encontrei – como de costume – meu mestre na sala de musculação. Depois de trocarmos aquele alô, ele virou-se para mim e disse: ‘Tenho um presente pra você’. Na hora, pensei que fosse alguma ironia com algo que aconteceria mais tarde na aula. Algo como: ‘Surpresa!Você vai dar aula hoje’ ou ‘Hoje, vamos fazer só luva…’ essas coisas. Só que não foi nada disso…
Quando entrei no tatame, atrasada (pois essa é uma ligeira concessão que meus anos de treino me permitem) fui encher minha garrafa d’água, colocar minha atadura e fazer meu breve aquecimento (já que venho direto da musculação). De repente, ele chegou do meu lado com um saco na mão (onde estava o par de luvas) e disse: ‘Presente pra você!’. Eu fiquei assustada e com cara de boba, sem saber bem o que falar e apenas perguntei ‘Por quê?’ e ele respondeu: ‘Por você ser uma excelente aluna’. Vocês não têm ideia do que eu senti. Fiquei emocionada e, confesso pra vocês aqui no Muay Thai Mulher, muito orgulhosa de mim.
Minha luva. Presente do meu mestre.
Meu mestre, Alessandro Souza, estava reconhecendo meu esforço e a minha dedicação. Foi um prêmio, muito, muito maior do que a luva. Naquela hora, pensei no meu começo e em todas as vezes que pensei em desistir ou quando ia fazer aula mesmo muito cansada, mas firme no compromisso de continuar. Fiquei tocada, agradecida e tive a vitoriosa sensação de que tudo valeu (vale) a pena.
Portanto meu conselho: não desista. Aguente firme e prossiga. Mesmo quando achar que não vai dar. No final, saber que você conseguiu faz toda a diferença. Não tanto para os outros, mas para você mesma!
E você? O que te motiva ou desanima? Divida conosco aqui no Muay Thai Mulher. Sua experiência pode ajudar a outras pessoas.